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sexta-feira, 27 de março de 2009

A Sobrevida Após a Reanimação Cardiopulmonar

"A medicina tenta ao longo de várias décadas, em uma luta sem fim, prolongar a vida. A Reanimação Cardiopulmonar é o exemplo maior desta conquista. O retorno da respiração e dos batimentos cardíacos após sua interrupção traz para a equipe médica uma satisfação inestimável. Conheça alguns resultados destas medidas, muitas vezes bem sucedidas, que prolongam a vida de muitas pessoas quando realizadas em tempo hábil e de maneira correta".



A parada cardiopulmonar é a cessação da circulação e da respiração; é reconhecida pela ausência de batimentos cardíacos e da respiração, em um paciente inconsciente. A interrupção súbita das funções cardiopulmonares constitui um tipo de problema que sempre foi um desafio para a medicina. Ela representa uma emergência médica extrema, cujos resultados serão a lesão cerebral irreversível e a morte, se as medidas adequadas para restabelecer o fluxo sangüíneo e a respiração não forem tomadas.

Até alguns anos atrás, nada era feito quando ocorria uma parada cardiorrespiratória, devido a uma crença infundada, vigente na época, de que nada poderia ser feito por esses pacientes. Entretanto, nos anos 50, verificou-se que a reanimação cardiopulmonar (RPC) após a parada cardíaca era, de fato, possível. E a partir dessa época, cada vez mais se discute sobre as técnicas de ressuscitação, sendo aprimorada e assim obtendo melhores resultados.

No ambiente hospitalar, a RPC é um procedimento de emergência que é rotineiramente aplicado em todos os pacientes que apresentam parada cardiorrespiratória. Como para qualquer outro procedimento de emergência, o consentimento dos pacientes é presumido, uma vez que se a RPC deixar de ser feita, a morte será inevitável. Mas muitas dúvidas ainda existem a respeito de quais pacientes teriam bons resultados com a técnica de ressuscitação; um melhor entendimento da sua eficácia e das taxas de sobrevida a curto e a longo-prazo é importante para a avaliação do sucesso das manobras de reanimação e da evolução dos pacientes, e pode ajudar na decisão, por parte das instituições, no planejamento das técnicas a serem utilizadas.

Com o intuito de analisar os resultados tardios e recentes da reanimação cardiopulmonar um grupo de pesquisadores americanos liderados pelo Dr. Thomas W. Zoch, conduziu um trabalho publicado na revista Archives of Internal Medicine, no qual os autores analisaram o resultado de manobras de reanimação cardiopulmonar realizadas no Marshfield Medical Center, entre dezembro de 1983 e novembro de 1991.


Foi realizada uma revisão de todos os pacientes, maiores de 18 anos, que receberam a RPC durante esse intervalo de tempo. Os dados pesquisados foram: (1) demografia; (2) características dos pacientes, incluindo o estado mental, a quantidade de dependência para atividades da vida diária (autocuidado) e tipo de diagnóstico (respiratório, cardíaco ou outros); e (3) características da parada cardiopulmonar, como hora do dia, localização física do paciente na hora da parada, se durante a parada o paciente estava monitorizado ou não, se a causa primária da parada foi cardíaca ou respiratória, qual o mecanismo da parada (com ou sem pulso) e dias de internação antes da parada. Os dados dos pacientes que evoluíram com óbito, estavam arquivados no computador do hospital.

Para a análise da sobrevida a longo prazo (média de oito anos após a alta hospitalar), os pacientes dos quais não foi possível saber se já haviam morrido, os pesquisadores consideraram como base a última consulta destes, sendo que todos os pacientes haviam procurado o hospital, pelo menos uma vez após a alta.


Um total de 1.066 tentativas de reanimações foram realizadas, em 948 admissões hospitalares. A maioria dos pacientes eram casados, do sexo masculino, foram admitidos de casa, tinham o estado mental preservado antes da parada, e não apresentava dependência para as atividades da vida diária. A idade média foi de 69 anos.

Das 948 admissões, 580 pacientes sobreviveram, sendo que 467 sobreviveram mais de 24 horas e 305 sobreviveram até a alta hospitalar. A maioria dos pacientes que recebeu alta voltou para casa sem problemas neurológicos.

O mecanismo da parada foi o fator mais importante associado com a sobrevida após a alta hospitalar, sendo que os pacientes que tiveram a parada sem pulso tiveram as piores chances de alta. Os pacientes que estavam monitorados sobreviveram mais dos que não monitorados, bem como os pacientes que tiveram parada cardíaca primária tiveram melhores resultados do que os pacientes com parada respiratória. Os pacientes que tiveram parada cardiorrespiratória durante o inverno morreram mais do que os pacientes que tiveram na primavera e no verão. A idade não foi uma variável importante associada à sobrevivência até a alta.

Dos pacientes que sobreviveram até a alta hospitalar, apenas 298 foram incluídos no estudo. Os pacientes foram divididos de acordo com a idade: 18 a 69 anos e acima de 69 anos. No primeiro ano após a alta, um quarto dos pacientes de cada grupo havia morrido. Nos anos seguintes o grupo de pacientes que tinham idade maior de 69 anos apresentou índice mais elevado de mortalidade. As mulheres tiveram taxa de mortalidade menor. Os pacientes que foram entubados durante a hospitalização sobreviveram menos. Aqueles cuja causa primária da parada foi um problema cardíaco tiveram um melhor prognóstico. Mas os autores lembram que nenhum desses resultados foi estaticamente provado.

Os autores acreditam que a instituição estudada, por tratar-se de uma instituição que atende pacientes da zona rural e brancos em sua maioria, não apresenta dados que possam ser generalizados para outra regiões geográficas e nem para as outras raças, e, por isto, outros estudos em diferentes instituições devem ser feitos.Ao final do trabalho, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a sobrevivência até a alta hospitalar, depois de uma RPC, foi a maior apresentada nos últimos anos, em comparação com outras instituições. E a sobrevida em longo prazo foi similar a outros estudos. O que eles puderam observar foi que o tipo de arritmia (com ou sem pulso) é importante na sobrevivência a curto e longo prazo e que a idade não influencia a sobrevida até a alta, mas é importante no prognóstico a longo prazo. Eles acreditam, ainda, que esses achados podem ajudar na seleção dos pacientes que devem receber a RPC.

Fonte: Arch Intern Med. 2000; 160: 1969-1973.

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